Faltam 21 dias...
"Hoje não
posso!
Pensei
durante alguns minutos sobre qual seria a frase que mais teimamos em repetir
nos dias que correm e (nos) fazem correr. E essa é precisamente a que se faz
título nesta crónica. Parece uma afirmação inofensiva. Leve. De inegável
tranquilidade. Parece, até, deixar ficar um rasto de promessa e de plano por
cumprir. Por amanhecer. Hoje não posso. Se optarmos por ler uma segunda
vez vai saber-nos menos a esperança. Hoje não posso. À terceira vez que
se repete já se sente um sopro mais gelado que se rasga em forma de tristeza.
Hoje não
posso. Vivemos reféns de uma frase que rapidamente se transformou
num modo de estar e de agir. Mas, afinal, o que nos faz nunca poder?
Hoje não
podemos porque nos é mais fácil ficar dentro do conforto que criámos à volta
dos nossos dias.
Hoje não
podemos porque nos é demasiado penoso correr riscos. Antes riscar as
possibilidades. Antes riscar o futuro do que arriscar.
Hoje não
podemos porque precisamos do pouco tempo que nos sobra para acumular tarefas
que nos privem de pensar no que está mal. No que nos prejudica. No que é
preciso mudar (ainda que doa).
Hoje não
podemos porque estamos comprometidos com uma existência cheia de caminhos que
vão dar ao mesmo sítio. O bom caminho é sempre aquele que já se conhece (ainda
que não leve a lugar algum).
Hoje não
posso. Desculpa. Falta-me o tempo para querer estar contigo.
Falta-me o tempo para querer ajudar-te. Falta-me o tempo para querer ouvir-te.
Falta-me o tempo para querer prometer-te que é para sempre. Falta-me o tempo
para querer abreviar o morno dos dias. Falta-me querer. Faltas-me. Faltam-me.
Falto-me.
Hoje não
posso. O que me falta não é o tempo. É a vontade. É colocar alma
nas coisas.
Hoje não
posso. Talvez outro dia. Talvez numa outra hora. Talvez a vida
espere por ti. Por nós. Ou talvez não. "
Marta Arrais
11 de outubro 2017
Não posso ou não quero pegar na cruz?
Não posso ou afinal era só SHOW OFF?
Mariana Rodrigues
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