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"Desistir também é ganhar?!
A
bandeira da coragem costuma pintar-se com cores fortes. Para ganhar
parece ser preciso fazer da força um lema e carregá-lo ao peito, ainda
que doa. Não sei se alguém já terá pensado nisso mas a verdade é que as
vitórias fazem ferida. Fazem mossa. Talvez não me tenha explicado bem.
Ou talvez não tenha colocado as palavras pela ordem certa. Acredito que
são as feridas que nos fazem vencer. São as quedas que nos dão uma corda
invisível para voltar a subir. A trepar para o lado certo do caminho.
Os joelhos que encontram o chão são os mesmos que se dobram, depois,
para agradecer ao Céu. Estamos pouco habituados a agradecer as curvas e
os contratempos. Não lhes entendemos a magia, o impacto e, muito menos, a
desarrumação que (nos) causam. Não nos parece óbvio, nem apropriado,
reagir às reviravoltas que nos enfraquecem com um sorriso. Ficamos
atordoados. Perdidos. Zangados. Enraivecidos. Furiosos. As quedas
fazem-nos fracos. As dificuldades fazem-nos tremer. As perdas fazem-nos
duvidar. As faltas ou as saudades fazem-nos colocar tudo em causa. As
voltas que a vida dá retiram-nos do conforto que julgamos ter construído
e envelhecem-nos. Reviram-nos por dentro.
Respira fundo.
Respiramos fundo e pedimos aos olhos que se retirem do imediato.
Respiramos fundo e vamos varrendo as perguntas que nos roubaram o chão e a fé:
O que me foi acontecer? O que é que aconteceu? Como é que isto foi acontecer?
Respiramos
fundo e reescrevemos a história. Em vez de insistir nas perguntas que
nos fazem perder tempo, talvez valha a pena colocar os acontecimentos em
perspetiva. Ou, quem sabe, colocar uma perspetiva nova em cada coisa
acontecida.
Retomemos
o raciocínio. A bandeira da coragem pinta-se de fraquezas. Pinta-se com
a tinta salgada do que foi preciso chorar. Para ganhar, é preciso andar
para trás muitas vezes. Cair nos mesmos lugares. Aprender a escolher
não voltar a cair. Ganhar faz ferida. Faz-nos ferida. Para ganhar é
preciso limpar a pele velha do que aconteceu e iluminá-la com uma
esperança nova. Depois, é preciso deixar o tempo entrar, passar e ficar.
Para ganhar é preciso despentear tudo o que estava quieto e deixar voar
tudo o que já não interessa. Eu só ganho com aquilo que a minha queda
me ensinou. Ganhar é continuar apesar de tudo o que possa ter
acontecido. É esse o verdadeiro significado da palavra ganhar.
É continuar apesar de tudo o que possa ter acontecido.
Agora, é tempo da pergunta nova:
O que é que eu fiz com o que me aconteceu?
Quando conseguires responder, podes descansar: ganhaste!"
Marta Arrais
30 de agosto 2017
"O que é que eu fiz com o que me aconteceu?"
Alguma vez pensámos nisto?
Ou continuamos a perguntar "Como é que isto foi acontecer"?
Desistir ou ganhar?
Aprender com as feridas e com as quedas ou preferir continuar a cair?
Preferir ficar quieto ou agir?
Deixar para trás tudo o que aconteceu ou continuar a bater na mesma tecla?
Continuar a fazer história ou ficar preso ao passado?
Abandonar ou ficar?
Perdão ou ressentimento?
Carregar a cruz ou fugir dela?
Dar o exemplo/testemunho ou não querer saber mais dos outros?
Ser família ou ser meramente um grupo que há primeira contrariedade desiste?
Amar a Associação de Acólitos ou amar a mim mesmo?
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